Por Renato Moraes
A aprovação da nova resolução para o Ensino Médio pelo Conselho Nacional de Educação traz mudanças significativas na forma como o currículo escolar será organizado. Em vez de reforçar a centralidade das disciplinas tradicionais, como português, matemática ou física, a proposta amplia o olhar sobre a formação dos estudantes, priorizando temas estruturantes como cultura, diversidade e direitos humanos.
Na área da Educação Física, essas transformações se revelam de forma clara. A resolução reconhece o corpo não apenas como objeto biológico, mas como linguagem, identidade e memória. As práticas corporais — danças, esportes, jogos populares, capoeira, entre outras — passam a ser entendidas como manifestações culturais que atravessam a vida dos sujeitos e a organização das sociedades.
Esse novo enfoque permite que a Educação Física escolar avance no sentido de uma formação mais crítica, criativa e conectada com a realidade dos alunos. Ao integrar diferentes formas de movimento e expressão, o componente amplia suas possibilidades pedagógicas e contribui para o desenvolvimento da autonomia, do respeito às diferenças e do diálogo entre saberes.
Corpo, cultura e identidade
Ao valorizar as expressões corporais, o currículo propõe que o corpo seja visto como território simbólico e social. Isso significa reconhecer que cada prática corporal carrega histórias, marcas culturais e significados diversos. Incorporar atividades como a dança afro-brasileira, a capoeira, os jogos indígenas ou os ritmos urbanos é também afirmar a importância da diversidade no espaço escolar.
Essa abordagem está alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que já orienta a construção de uma Educação Física comprometida com a pluralidade cultural, a inclusão e a superação de estereótipos. Trabalhar o corpo como linguagem é, ao mesmo tempo, uma forma de ampliar repertórios e de combater invisibilidades.
Desafios para a prática docente
Embora a resolução abra caminhos importantes, ela também impõe desafios concretos à prática docente. A ausência de definições específicas sobre os conteúdos a serem trabalhados pode gerar insegurança ou abordagens superficiais. Cabe às redes de ensino, às escolas e aos professores construírem propostas curriculares coerentes, que integrem os fundamentos da Educação Física com o novo cenário educacional.
Esse processo exige formação continuada, trocas entre educadores e construção coletiva de planejamentos. O equilíbrio entre os conhecimentos historicamente ensinados — como esportes e anatomia — e as práticas culturais contemporâneas será fundamental para garantir uma aprendizagem significativa e contextualizada.
Formação integral e compromisso com a vida
A nova resolução aponta para uma escola que reconhece o estudante como sujeito integral. Ao ampliar o lugar do corpo e das práticas corporais no currículo, a Educação Física ganha força como espaço de expressão, cidadania e escuta.
Mais do que desenvolver habilidades motoras, o componente curricular passa a contribuir de forma decisiva para a formação ética, estética e social dos jovens. Um convite à escuta, ao respeito, à liberdade e ao movimento — dentro e fora da escola.